Meus
ancestrais Moura de Albuquerque são até agora uma das partes mais interessantes
que descobri sobre as minhas origens, com alguns personagens bem relavantes na
história brasileira, uma história de amor e tragédia contada por Jorge Amado,
Afrânio Peixoto e outros autores e pelo grande número de informações que
descobri sobre eles.
Tudo começa
quando Martiniano José de Moura Magalhães casa-se com Maria Efigênia da Rocha e
Albuquerque, em Rio de Contas, provavemente bem nos primeiros anos do século
XIX. Eles são os Trizavós Maternos do meu bizavô materno: Olindo de Oliveira
Guimarães.
Sobre
Martiniano José não descobri as origens, apenas que tenha vindo das Minas
Gerais. Maria Efigênia era filha de Portugueses, sendo seu pai, Dr. Bernardo de
Mattos e Albuquerque formado em leis em Coimbra e Provedor do Rio de Contas,
uma espécie de prefeito, com muitas posses na região, chegou a ser nomeado Capitão
de Ordenanças da Bahia pelo reinado de D. Maria I*.
Martiniano
ficou víuvo cedo, mas já era pai de pelo menos 4 filhos em 1817, vivendo em
Nossa Senhora do Livramento das Minas do Rio de Contas (hoje Livramento do
Brumado), quando resolveu vender a auforria a uma de suas escravas, fato que
aparece em vários relatos sobre o triste período da escravidão no Brasil.
Um dos
filhos de José Martiniano, Martiniano de Moura e Albuquerme, ficaria famoso e
teria sua história, ou melhor sua morte retratada em vários romances. Este era
o bizavô do meu bizavô materno, ele foi um dos personagens da guerra entre os
Canguçu, os Moura e os Castro no sertão baiano.
A Guerra com os Canguçu e o assassinado de
Martiniano
Essa
história começa quando Pórcia e sua irmã mais velha Clélia, junto com uma
comitiva, faziam uma viagem de Cajueiro (hoje município de Guanambi) até
Curralinho na borda do recôncavo bahiano. Ali Clélia Brasília Castro se casaria
com Antônio José Alves. Seriam os futuros pais do poeta Castro Alves.
Durante a
viagem fizeram uma parada no Sobrado do Brejo, na localidade de Bom Jesus (hoje
município de Caetité). Durante a estadia Pórcia, a tia mais nova de Castro
Alves, teria se enamorado por Leolino Canguçu, um dos donos da casa, Leolino
era casado.
Após a
partida, Leolino e um grupo de capangas detém a comitiva e sequestra Pórcia,
levando-a novamente para o sobrado, onde ela permace por 3 semanas. A família
Castro não deixou barato, e pediu ajuda
aos Mouras para invadir o Sobrado dos Canguçu e libertar Pórcia.
É ai que
meu Sexto-Avô entra na confusão. Já havia algum parentesco entre Mouras e
Canguçus (embora eu não saiba qual) e a “traição” despertou a ira de Leolino.
Em dezembro de 1845 o próprio Leolino arma uma tocaia e mata Martiniano,
atentando também contra a vida do seu irmão Manuel, que escapa. O revide viria
dois anos mais tarde e em 1847 Leolino é assassinado por um grupo armado a
mando de Manuel, era o fim da guerra.
Talvez pelos contornos de romance e tragédia, talvez pela relação com o poeta Castro Alves, este episódio é retratado em vários romances, entre eles Sinhazinha (1929) de Afrânio Peixoto, História de Castro Alves (1947) de Pedro Calmon, ABC de Castro Alves, do escritor baiano Jorge Amado e Uma comunidade rural do Brasil antigo de Lycurgo Santos Filho.
Talvez pelos contornos de romance e tragédia, talvez pela relação com o poeta Castro Alves, este episódio é retratado em vários romances, entre eles Sinhazinha (1929) de Afrânio Peixoto, História de Castro Alves (1947) de Pedro Calmon, ABC de Castro Alves, do escritor baiano Jorge Amado e Uma comunidade rural do Brasil antigo de Lycurgo Santos Filho.
Alguns Moura e Albuquerque que
ficaram na história
Mas não foi apenas o assassinato de Martiniano que fez a fama da
família, depois dele, alguns filhos e sobrinhos tiveram destaque na história do
país, apesar de não serem meus ascendentes diretos, vou contar um pouco de três
deles:
Joaquim Augusto de Moura, mais conhecido como o Barão de Vilha Velha, foi um dos filhos de Martiniano, irmão mais
velho da minha quinta-avó, Ana Amélia de Moura Albuquerque. Joaquim tornou-se
um grande proprietário de terras e gado, tendo morado em um dos casarões
construídos pelos primeiros Spínolas (estes também meus ancestrais) na Lagoa do
Timoteo. O título de Barão foi concedido por Dom Pedro II em 17 de Maio de 1873
em retribuição à uma generosa contribuição de 10 contos de réis que fez a
“instrução pública” de Vila Velha, hoje Livramento de Nossa Senhora (Livramento
do Brumado).
Outro nobre, foi José Egídio de
Moura e Albuquerque, o Barão de
Santo Antônio da Barra. Filho de Manuel (aquele irmão que vingou a morte de
Martiniano), José Egídio foi Coronel da Guarda Nacional** e ganhou o título de
Barão após ter prestado ajuda financeira as vítimas da “peste” em Rio de Contas
em 1889, nomeado em Agosto, deve ter sido um dos últimos nobres do império de
Dom Pedro II, que cairia em Novembro do mesmo ano. José Egídio ainda seria
nomeado o 1º Intendente do município de Condeúba (nome atual de Santo Antônio
da Barra), logo após a proclamação da república.
Outro filho de Manuel, Marcolino
de Moura e Albuquerque, teve participação destacada na Guerra do Paraguai e
no movimento pela abolição da escravidão no Brasil.
Em 1865 Marcolino resolveu parar temporariamento os estudos na Faculdade
de Direito do Recife para lutar na Guerra do Paraguai, ele foi o
Tenente-Coronel do Batalhão Imperatriz com 386 soldados ao seu comando. Ele é
citado como tendo participação destacada na Batalha de Tuiuti, em 24 de Maio de
1866. Esta batalha foi decisiva na vitória dos Aliados na Guerra e é
considerada a batalha mais sangrenta da história da América do Sul, com 10.000
mortes no total. Ele também aparece em outros momentos da guerra, em 1867 volta
a Bahia para recrutar mais voluntários, inclusive alguns presos, em 68, em uma
das batalhas finais da guerra pela tomada da ponte de Itororó, sua tropa ficaria
famosa por utilizar a Capoeira para combater o inimigo, após a munição acabar.
Após a vitória no Paraguai Marcolino formou-se bacharel em direito e se
elegeu Depultado Federal (tanto no império quanto na república), tendo participado
da Constituição de 1891. No Congresso Federal defendeu a Abolição dos Escravos,
tendo documentadas intervenções suas nos discursos de Joaquim Nabuco. Também
participou da criação da Sociedade Brasileira contra a Escravidão e do Jornal
Abolicionismo. Hoje existe o distrito de Marcolino Moura, no município de Rio
de Contas, em sua homenagem.
Outro Moura que irei lembrar aqui é Antônio
Martiniano, outro filho de Manuel, este se casou com a filha de sua prima,
Maria Delfina (irmã da minha Trizavó Idalina Augusta de Moura Bittencourt)***. Antônio além de seguir a
tradição do avô nas grandes plantações de café na região, teria sido traficante
de escravos, trazendo-os da Bahia para São Paulo através de procurações dadas
pelos seus proprietários para vendê-los aos novos produtores de café paulistas.
Existe um registro de 1877 do governo da província Baiana a respeito de uma
cobrança de imposto sobre 200 escravos que ele havia levado desta para São
Paulo. Nesta mesma época ele teria se mudado de vez para Casa Branca-SP (rota
realizado por outros de meus ancestrais também) e criado plantações de café na
região. Onde estavam suas terras hoje existe o município de Santa Cruz das
Palmeiras, local onde seus filhos e netos também exerceram importantes papéis
políticos.
***
* O título está registrado no arquivo da Torre do Tombo em Lisboa, este
é o link: http://digitarq.dgarq.gov.pt/details?id=1901333
** A Guarda Nacional foi uma força paramilitar criada em 1831 durante o
período regencial (quando Dom Pedro II era muito novo para ser Rei de fato e
Dom Pedro I já tinha voltado para Portugal) para substituir antigas milícias
regionais. Vários dos meus ancestrais pertenceram a ela.
*** Meu Bizavô Olindo veio para o interior de São Paulo com Antônio
Martiniano, junto com a prima e sogra dele (que era avó do meu Bizavô): Ana Amélia
de Moura e Albuquerque.
Fontes:
Blog Vasconcelândia: http://www.vasconcelosbahia.blogspot.com.br
Blog de
Brumado, sobre os Moura e Albuquerque: http://www.blogdopaulonunes.com/v3/2011/05/26/wenceslau-rizerio-de-araujo-e-a-historia-de-brumado/
Blog da família Cangussu: http://cangussu.web44.net/index.php?p=1_9_Historias-e-Est-rias
Processo
onde Bernardo de Mattos e Albuquerque foi advogado 1779:
Ana Amelia de Moura e Albuquerque era minha trisavô materna. Tenho foto dela.
ResponderExcluirOi Getulio, Q legal !! Pode me mandar a foto ? ricardogpalma@gmail.com
ExcluirAbraço
Olá! Muito interessante! Ana Amelia é sobrinha da minha tetravó Maria Carlota de Moura e Albuquerque.☺
ExcluirDescobri minha ascendência através do site familysearch. Nele é possível ver a árvore genealógica da família e acrescentar fotos.
ExcluirMuito bom saber a historia de minha família, gostaria de saber se alguém tem a foto de meu bisavô Augusto Moura e Albuquerque, pois o mesmo foi prefeito aqui no município de São Felipe BA, e não existe nenhuma foto do referido entre os quadros dos prefeitos.
ResponderExcluirAtt,
Luis Eduardo Aguiar da Silva e Moura.
Boa tarde,
ResponderExcluirmeu bisavô, Leonel Justiniano da Rocha, foi o único herdeiro da Baronesa de Vila Velha, viuva de Joaquim A. de Moura. Diz-se na familia que ele seria filho ilegítimo de um dos 2 (Barão ou da Baronesa). Estou procurando fontes ou informações que possam me ajudar a investigar essa versão. Poderiam me indicar alguma fonte, por favor? Obrigada
Parabens Pela Pesquisa.Sou Moura pela parte de meu Avô mas nao tenho Moura no Nome.Tenho no Sangue com Gratidão.
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